História da Maria
Castanha
Narrador
1: O céu estava cinzento e quase nunca aparecia o sol, mas enquanto não
chovia os meninos iam brincar para o jardim.
Um jardim muito grande e bonito, com
uma grade pintada de verde toda em volta, de modo que não havia perigo de os
automóveis entrarem e atropelaremos meninos que corriam e brincavam à vontade,
de muitas maneiras: uns andavam nos baloiços e nos escorregas, outros deitavam
pão aos patos do lago, outros metiam os pés por entre as folhas secas e faziam-nas
estalar – crac, crac – debaixo das botas, outros corriam de braços abertos
atrás dos pombos, que se levantavam e fugiam, também de asas abertas.
Narrador
2: Era bom ir ao jardim. E mesmo sem haver sol, os meninos sentiam os pés
quentinhos e ficavam com as bochechas encarnadas de tanto correr e saltar…
Uma vez apareceu no jardim uma
menina diferente: não tinha bochechas encarnadas, mas uma carinha redonda,
castanha, com dois grandes olhos escuros e brilhantes.
Criança
A- Como te chamas?
Maria
Castanha- Maria. Às vezes chamam-me Maria Castanha.
Criança
B- Que engraçado, Maria Castanha! Queres brincar?
Maria
Castanha – Quero!
Narrador
2: Foram brincar ao jogo do apanha e a Maria Castanha corria mais do que
todos.
Maria
Castanha- Quem me apanha?... Ninguém me apanha!
Criança
C- Ninguém apanha a Maria Castanha! (Chateado e cansado de correr atrás
dela).
Narrador
2: Ela corria tanto, corria tanto que nem viu o carrinho do vendedor de
castanhas que estava à porta do jardim, e foi de encontro a ele.
Pimba! O saco das castanhas caiu e
espalhou-as todas pelo chão.
A Maria Castanha caiu também e ficou
sentada no meio das castanhas.
Vendedor
de castanhas - Ah. Minha atrevida! (gritou zangado)
Crianças
todas- Foi sem querer… (explicaram os outros, que acabam de chegar atrás dela).
Maria
Castanha- Eu ajudo a apanhar tudo… (de joelhos a apanhar as
castanhas caídas).
Narrador
2: E os outros ajudaram também (aguardar que apanhem as castanhas) Pronto!
Ficaram as castanhas apanhadas num instante.
Vendedor
de castanhas - onde estão os teus pais?
Maria
Castanha- Foram à procura de emprego.
Vendedor
de castanhas - E tu?
Maria
Castanha- Vinha à procura de amigos.
Crianças
todas - Já encontraste: nós somos teus amigos!
Vendedor
de castanhas – E eu também sou.
Narrador
2: E pôs as mãos nos cabelos da Maria Castanha, que eram frisados e
fofinhos como a lã dos carneirinhos novos.
Vendedor
de castanhas - Quando os amigos se encontram é costume fazer uma festa.
Vamos fazer uma festa de castanhas… Gostam de castanhas?
Crianças
todas - Gostamos! Gostamos! – gritaram
os meninos.
Maria
Castanha- Não sei. Nunca
comi castanhas, na minha terra não há.
Vendedor
de castanhas - Pois vais saber como é bom.
Narrador
2: E o vendedor deitou castanhas e sal dentro do assador e pô-lo em cima do
lume…Dali a pouco as castanhas estalavam… Tau! Tau! (som feito com tiro de
pistola de brincar ou balões).
Maria
Castanha- Ai, são tiros?
Narrador
2: Assustou-se a Maria Castanha, porque vinha de uma terra onde havia
guerra.
Vendedor
de castanhas - Não tenhas medo. São castanhas a estalar com o calor.
Narrador
2: Do assador subiu um fumozinho azul-claro a cheirar bem.
E azuis eram agora as castanhas
assadas e muito quentes que o vendedor deu à Maria Castanha e aos seus amigos.
Maria
Castanha - É bom é!
Vendedor
de castanhas -Se me queres ajudar podes comer castanhas todos os dias.
Sabes fazer cartuchos de papel?
Narrador
2: A Maria Castanha não sabia, mas aprendeu…
Narrador
1: Agora é ela quem enrola o papel de jornal para fazer os cartuchinhos
onde o vendedor mete as castanhas que vende aos fregueses à porta do jardim.
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